da nostalgia
Faz-me falta a porta giratória do antigo café Califórnia e a barbearia que ainda existe à entrada e que teima em não desaparecer. Os tremoços bem temperados e os empregados eficientes do Porto Novo. A loja de discos de jazz que eu gosto mesmo não gostando assim tanto de jazz. A cacofonia mecânica dos eléctricos antigos e o semblante despreocupado de quem neles viaja por gosto. O british bar, que no fundo é mais latino do que inglês. A única padaria que orgulhosamente anuncia, na vitrina, haver "pão para obstipados". Os transeuntes vistos do lado de dentro, apressados numa pressa taciturna e mole de quem regressa a casa. E ao fundo um rio, cansado e xaroposo, que ao final da tarde vou cruzar.
Cais do Sodré
foto roubada daqui.
4 Comments:
O British Bar (e o relógio da hora oficial) são o meu Cais do Sodré, tal como o cacau da Ribeira era o fim das noites de Jamaica e Europa.Foi, durante anos, o único bar de Lisboa onde uma rapariga podia ir beber um copo com os seus botões e sonhar com viagens marítimas enquanto não apanhava o comboio para casa. O melhor do British Bar era nos anoiteceres súbitos de inverno, quando a chuva salpicava as vitrinas e os empregados deslizavam entre o balcão e as mesas. Havia no ar uma indefinível nostalgia de outros cais e outros bares, como se os frequentadores depositassem à sua volta as memórias de longínquas viagens. O British Bar, cuidadosamente renovado, tem hoje mais gente, mais barulho,mais turistas. Mas continua a ser o bar onde vou beber e arrumar a cabeça. Ou onde marco encontros em jornadas de Baixa ou viagens de comboio..
3:40 da tarde
Recordo, com uma tristeza doce, quando te ía buscar ao CS e olhava ansiosa pela janela a cada momento que o teu semblante surgiria.
Eis que te vislumbro no meio da multidão, atarantado, nervoso, passo rápido "porque se mexe tanto e vira e revira??" inquieto "querias esconder o teu coração??" - olho em frente e sorrio "ele já aí vem"...
De repente abres a porta do carro de sorriso aberto, braços abertos, um ramo de rosas na mão direita, o meu sorriso rasga-se e tudo se ilumina.
...
A última vez que te vi saíste de rompante do meu carro no CS, sem despedida, sem olhar, sem palavra, avançaste em direcção ao teu destino deixando atrás um rasto invisível e amargamente letal a Azzaro.
5:33 da tarde
Os lugares da alma não são os espaços do coração.É sempre fatal confundi-los Para alma e para o coração..
6:37 da tarde
Não se confundem; são necessariamente indissociáveis. Onde está a alma, está o coração. Onde está o coração, está a alma. Tudo o resto é fachada, viver sob o prisma de uma máscara.
12:44 da tarde
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