The Motorcycle Days # 2
22h40. Já estou dentro do Konkan Kanya Express, o comboio que me levará a Goa. Se tiver um bocado de sorte, a bateria do portátil cooperará e conseguirei acabar este post.
A cidade tem duas grandes estações: A Chatapatri Shivaji Terminus e a Mumbay Central. Da primeira partem comboios para o Este e para o Sul da Índia. Da outra saem os comboios para o Norte.
O CST está num edifício fantástico e constitui um verdadeiro ícone da arquitectura vitoriana. Está bem conservado por fora mas por dentro a coisa muda um bocado. Apesar de tudo é muito funcional – tem que ser, uma vez que, diariamente, chegam e partem daqui cerca de 2 milhões de passageiros. Não há, naturalmente, salas de espera (ou se há eu não as encontrei), pelo que as pessoas ficam sentadas ou deitadas no átrio principal, tornando a movimentação de quem se quer dirigir para os comboios uma verdadeira prova de resistência.
Fui o primeiro a chegar ao compartimento, onde existem 4 camas. Duas superiores e duas inferiores. Na tabela afixada na porta li o meu nome escrito e a cama que me foi atribuída. Fiquei com a de baixo, do lado direito de quem entra.
Os meus companheiros de viagem vão chegando um a um. O primeiro foi um tipo enorme vestido com uma túnica branca. Não deve falar inglês. Sorri enquanto abana a cabeça de um lado para o outro, daquele jeito que só os indianos sabem fazer. Está a querer ser simpático. O segundo é um tipo de uns trinta e poucos anos, vestido à ocidental, de poucas palavras e nenhum sorriso. Entretanto chegou o terceiro, o mais falador de todos. Já me perguntou de onde eu era e para onde ia. Fez o mesmo com os outros dois. Há-de querer saber mais coisas porque este é o tipo de passageiro que só se cala quando adormece.
Estou na carruagem da 1ª classe – Deluxe (na Índia tudo o que está ligeiramente acima da média é Deluxe). Os standards são bastantes diferentes dos nossos. As restantes classes tem bancos corridos de napa coçada ou madeira e em vez de janelas têm grades. Olhei para dentro de uma e vi que o número de passageiros excedia descaradamente a lotação máxima. É compreensível. Neste período do ano muita gente que normalmente vive em Mumbai vai para Goa ou mesmo para outras cidades do Estado de Marahastra, ao qual pertence Mumbai, para passar o Natal (os cristãos) ou o Divali (os Hindus), festividade que tem a sua apoteose no final de Novembro. Os comboios para o Sul são poucos e a opção por via aérea é incomportável. Por isso, o importante é mesmo conseguir um lugar no comboio e chegar ao destino.
Este comboio faz parte da carreira normal da Indian Railways. Há também os comboios especiais, para turistas, que são uma espécie de resorts sobre carris. Uma viagem de uma semana chega a custar 1000 Euros.
Já ouvi o silvar da automotora, que anuncia a partida. São exactamente 23 horas. Um dos mais importantes footprints deixados pela Inglaterra neste país é a pontualidade (característica que os ingleses perderam há muito mas que conseguiram vender ao mundo como elemento cultural inabalável). Agora esperam-me pelo menos 12 horas de viagem.
Hoje é dia 28 de Novembro de 2004. Está mais calor em Mumbai do que em Lisboa.
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