Blog com sintomas acentuados de jetlag, sobre lugares, pessoas e outras coisas. Unipessoal. Partilhável.

terça-feira, novembro 30, 2004

the motorcycle days

Chegada a Mumbai (ex-Bombaim, para os mais distraídos). Estadia de dois dias antes do comboio para Goa.
Dizia Gandhi que a alma da Índia está nas aldeias, não nas cidades. 50 e tais anos depois a coisa mudou e, se calhar, é nas mega-urbes como esta que se descobre a verdadeira Índia.
Terceira cidade mais populosa do mundo e principal porta de entrada no país para quem vem da Europa (Delhi e Chennai são alternativas menos utilizadas), Mumbai é uma autêntica patuscada para os sentidos. No entanto, por ser uma porta giratória para outras cidades indianas, o aeroporto internacional Chatapatri Shivaji acaba por ser a única experiência para a maioria das pessoas que por cá passam.
Conheci o Parvez, um muçulmano muito pouco ortodoxo que bebe álcool, fuma e come porco à escondida da família, e que se ofereceu para me levar a conhecer Mumbai como pendura na sua motorizada. Uma experiência única (cheguei a pensar que seria mesmo única, especialmente quando subimos para a mota depois da quarta Kingfisher, a cerveja local).
O Parvez trabalha em Mumbai como gestor de projectos hoteleiros. Neste momento está a ajudar a montar um Lounge Café, mesmo no centro da cidade. Segundo ele, “o primeiro e único lounge de Mumbay digno de ser referido nas mais glossy revistas do mundo”. Abre no dia 10 de Dezembro e vai-se chamar The Mandarine Café. A música: Buddha Bar, Nirvana Lounge e outras chillout moods (a fórmula não se esgotou ainda na Índia). Fui lá ver o espaço, que tem mobiliário de Singapura, peças de decoração da Malásia, chefe de cozinha indiano mas com feições chinesas (a mesma bizarria da História do século XX que, ao mesmo tempo que mandou japoneses para o Brasil, enviou hordas de chineses para a Índia) e restante staff um pouco de toda a parte. Como a porta de entrada já estava fechada, entrámos pela porta de serviço, nas traseiras. Quem conhece o Oriente sabe que estas entradas de serviço correspondem sempre a atmosferas lúgubres e ameaçadoras, (lembrei-me logo dos momentos iniciais de Chunking Express e empalideci). Os cozinheiros e ajudantes, alinhados no corredor que antecede a cozinha, numa pausa do trabalho, olhavam para mim com um semblante pouco ternurento. No entanto, assim que o Parvez me apresentou como o seu «amigo português», a desconfiança atenuou-se e surgiu até um comentário, de um deles, que afirmava com toda a segurança do mundo que “o FC Porto sem o coach Jousé Morinho [sic] não será mais o mesmo!”. O conhecimento e interesse pelo futebol português pareceu-me um pouco estranho, mas algumas horas depois, no quarto da residencial, pude constatar que há em Mumbai um canal de TV que passa semanalmente os highlights da Superliga portuguesa. De onde vem esse interesse pelo nosso futebol não sei. O Figo joga em Espanha, o Mourinho está em Inglaterra. O que terá de interessante para esta gente, que não sofre influências dos portugueses desde 1661, um Benfica-Rio Ave ou um Sporting-Vitória de Setúbal?!
De qualquer forma, pelo que vi, o Mandarine Café está a ficar muito charming e teria de facto lugar em qualquer capital europeia.
Estas são as coisas suaves da minha curta experiência de Mumbai, até agora. Porque ainda estou a digerir algumas imagens que fixei ao longo dos quase 80 km que eu e o Parvez fizemos de moto, sem sair do perímetro da cidade. Imagens terríveis, I shall say. Contá-las-ei numa crónica futura. Ou então não. A culpa foi minha. Pedi-lhe para me dar a conhecer a verdadeira Mumbai e não apenas as partes turísticas. Acho que ele levou demasiado a peito o meu pedido.
Bom, vou agora terminar esta primeira crónica indiana. Escrevo no meu portátil, no 5º andar do Bombay YMCA – International House Centre (uma espécie de residencial para scholars mas que também está aberto a turistas normais). Primeiro colocaram-me no 2º andar, num quarto com ar-condicionado, WC privativo e duas excelentes camas. Mas como o quadro eléctrico fazia um barulho horrivel, pedi que me arranjassem um novo quarto. Deram-me este, no último andar e sem os requintes referidos atrás. Para compensar, o autoclismo funciona bem, ao contrário do outro (este pormenor não é despiciendo para quem acabou de chegar à Índia).
Hoje é dia 27 de Novembro de 2004. São 10h30 em Mumbai, mais cinco horas do que em Lisboa.
Vou para a cama tentar dormir ao som de Nina Simone e da ventoinha no tecto.
Não sei em que dia este post vai para o ar.

quinta-feira, novembro 25, 2004

objectivo: Goa

Estou de partida para o país que se orgulha de ter a maior indústria de cinema do mundo.
Vou com duas missões bem definidas: encontrar duas pessoas. Uma só tem um dente e vai-me levar a conhecer, de barco, a praia das borboletas. A outra pessoa é bem mais difícil de encontrar. Ou está morto, ou está no hospital com uma cirrose, ou nunca existiu e foi tudo uma alucinação (hipótese bastante provável). Ou -hipótese a não desprezar- ainda está sentado em casa à espera de um bando de junkies portugueses, que prometeram lá ir jantar há 13 meses atrás. Se ainda tiver tempo, e se resistir aos 34ºc, passo ainda por um certo hotel para rever um empregado a quem o mesmo bando pôs alcunha de exame ginecológico.
Se as condições o permitirem (o fígado e o cérebro, entenda-se) actualizarei este berlogue com notícias frescas com aroma a incenso e sabor a cajús.
Bom Natal a todos!


segunda-feira, novembro 01, 2004

pornblografia # 1


Há uma réstia de esperança para os defensores do orgasmo não-simulado.
Lars Von Trier (Ondas de Paixão, 1996; Dancer in the Dark, 2000; Dogville, 2003) propõe, no seu «Puzzy Power Manifesto», uma espécie de Honestidade Mínima Obrigatória para o cinema hardcore. Isto é, um conjunto de regras que inclui, entre outros, "a sinceridade dos actores" e "a defesa da estética e da verdade".
Quando a intelectualidade nórdica entra no domínio da pornografia, só se pode esperar o melhor.


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