sexta-feira, junho 08, 2007
quinta-feira, janeiro 18, 2007
sexta-feira, janeiro 05, 2007
o sorriso
creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade
(1923-2005)
sábado, dezembro 30, 2006
early morning quiz
A execução perpetrada hoje e as imagens de terror divulgadas em libidinoso mimetismo (os capuzes urdidos pelos tecelãos do governo são menos negros do que os dos terroristas?), representam:
1) um bom augúrio para o ano que aí vem?
2) um motivo de regozijo para a coalition?
3) uma imagem de esperança para o mundo árabe/islâmico?
4) a confirmação da irreversível marcha da humanidade para níveis superiores de civilidade?
Riscar o que não interessa.
quinta-feira, dezembro 28, 2006
a minha lista
- melhores discos de 2006
1º - clara hill "all i can provide" (sonar kollectiv)
2º - isoul8 "balance" (sonar kollectiv)
3º - alif tree "french cuisine" (compost records)
4º - koop "koop island" (k7)
5º - fat freddys drop "based on a true story" (drop)
6º - soulphiction "state of euphoria" (sonar kollectiv)
7º - voom:voom "peng peng" (k7)
8º - m.a.n.d.y. "get physical vol 2" (get physical music)
9º - cat power "the greatest" (matador)
10º - jazzanova "blue note trip" (blue note)
- melhores filmes estreados/vistos em 2006
1º "munich" - steven spielberg
2º "match point" - woody allen
3º "volver" - pedro almodóvar
4º "broken flowers" - jim jarmush
5º "a story of violence" - david cronemberg
6º "the bride corpse" - tim burton
- melhores restaurantes/gastro-bares 2006
1º tokyo, buffet-sushi, alcântara, lisboa.
2º imchuli, infanto santo, lisboa
3º pedro das arábias, bairro alto, lisboa.
4º mm café, teatro mm, lisboa.
5º asian lounge, green park, londres.
2º burguer king, vários pontos, londres. *
Por motivos óbvios, O bk consta nesta lista numa base "honoris causa".
- melhores exposições 2006
1º - "portraits" - david hockney, national portrait gallery, londres.
2º - "fotógrafos portugueses no pós-guerra", museu da cidade, lisboa.
2º- "cézanne in england", national gallery, londres.
3º - "the world in 2006 - the photographers from reuters", national theatre, londres.
4º - "frida khalo", ccb, Lisboa.
5º - "chinese families in britain", national portrait gallery, londres.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
quinta-feira, dezembro 14, 2006
quarta-feira, dezembro 13, 2006
Declaração Urbi et Orbi
Embora aprecie o folclore à volta da figura de Jack the Ripper, esse médico psicopata (ou, nas versões literárias mais pop, esse butcher entediado), que andou a estrangular prostitutas incautas nas horas mortas (a palavra neste contexto ganhar particular beleza) da Londres fabril e cinzenta do século XIX, declaro, sob compromisso de honra, que nada tenho a ver com a presente onda de puti-extermínio que assola o Reino Unido.
Islington, Londres, 13 Dezembro 2006.
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quarta-feira, novembro 29, 2006
domingo, novembro 26, 2006
custos de oportunidade
Decididamente, a aprendizagem que ganhamos através da experiência de vivermos fora não provém das coisas que fazemos, mas do resultado de tudo aquilo que resolvemos NÃO fazer.
quarta-feira, novembro 22, 2006
terça-feira, novembro 21, 2006
segunda-feira, novembro 20, 2006
Amália
segunda-feira, novembro 06, 2006
Wales
ESTE PÃO QUE VENHO ABRIR
Este pão que venho abrir foi outrora centeio,
este vinho sobre uma ramada desconhecida
ficou submerso nos seus frutos;
o homem em cada dia, em cada noite o vento
arrancaram a alegria dos cachos
e derrubaram as searas.
Com o vinho, outrora o sangue de estio palpitava
na carne que ornamentava a videira,
outrora neste pão era feliz sob o vento o centeio;
mas o homem despedaçou o sol e abateu o vento.
Esta carne que despedaças,
este sangue que traz a desolação pelas veias,
eram os cachos e o centeio nascidos
das raízes e da seiva dos sentidos;
este meu vinho que bebes,
este pão de que te alimentas.
Dylan Thomas, Wales, 1914-1956
sexta-feira, novembro 03, 2006
quarta-feira, novembro 01, 2006
flexibilidade e polivalência
Às terças, quintas e sábados aprende economia política internacional; nos restantes dias aprende a sacar capuccinos.
segunda-feira, outubro 30, 2006
Andreas-Andrew
Se tivesse que eleger a figura mais caricatural desta minha 'aventura' londrina, elegeria, sem hesitar, o meu landlord Andreas. Nome grego que o oportunismo (no sentido de 'sentido de oportunidade', claro) transformou num anglófono e sensaborão Andrew.
Cipriota, nos seus 50 e picos anos, vive em Londres desde 1970 mas continua a falar um inglês tão imperfeito como quando aportou, há 36 anos, em Dover (de lá para cá apenas deve ter apreendido alguns termos relacionados com business).
Antigo dono de uma loja de kebabs, viu o seu negócio florescer até ao ponto de poder, com o seu aforro e vida monacal (quem sabe oriunda da ortodoxia grega), comprar não só a loja mas o prédio inteiro nesta Hornsey Road, que na altura era um subúrbio para a working-class mas que hoje constitui a fronteira entre a Londres posh e civilizada de Angel e a Londres dos excluídos de Finsbury Park.
Daí até à reafectação dos seus recursos para negócio mais rentável, foi uma questão de tempo. Uma década. Talvez nem tanto.
Depois de algumas obras de melhoramento no miolo do edifício, conseguiu criar uma espécie de pensão nos 1º e 2º andares e a sua própria casa familiar, no groundfloor, com entrada independente. Ali vive com a sua mulher Katie (não sei se o nome é o original) e com um dos filhos, pós-adolescente. O filho nunca o vi mas a Katie tem ar de mulher saída de uma novela de Jane Austen. Estóica e conservadora (no sentido sócio-político e não religioso), é a esperta da família, sempre atenta e veloz a corrigir as alarvidades do marido. Funcionária bancária (sim, ela não deixou o seu emprego seguro no Bank of Ciprus, branch of London, porque isto do negócio imobiliário nunca se sabe com o que contar), veio para Londres estudar quando tinha 20 anos mas o máximo que deve conhecer da movida é um ou outro pub em Trafalgar Square, onde bebeu cidra com as amigas e caiu para o lado. Dos anos 70, a única coisa de que se deve lembrar é a festa do Jubileu da rainha ou o nascimento da filha da Princesa Ana, acontecimentos que seguiu com atenção através da insuspeita BBC.
Imagino-a, escandalizada, a mudar de estação de rádio aos primeiros acordes de Clash ou Sex Pistols, preferindo uma que passasse os hits do Festival da Eurovisão.
No sossego do seu lar, Andreas mata o tempo a fazer a contabilidade familiar (empreendimento que deve abandonar quando surge a primera conta de dividir) e a escutar a Radio Ciprus da sala de estar, que ainda hoje, em vez de janelas para a rua, tem um portão azul, corrido, que era a entrada da sua velha loja de kebabs. De quando em vez arma-se em plumber, de chave-inglesa na mão, e percorre todos os andares do prédio para arranjar uma suposta falha mecânica no sistema de aquecimento central (que está quase sempre desligado para não gastar). Tudo não passa, obviamente, de uma operação patética de verificação das condições em que os seus tennants (duas americanas, um americano, um irlandês e um português, todos estudantes post-graduate, thirty-something) deixaram a cozinha e os WC's. Quase sempre dá de caras com um ou outro de nós. Fica vermelho, atrapalhado e gagueja como uma criança de 9 anos quando faz asneira. Na mais pequena oportunidade, chega mesmo a entrar nos quartos (recorde-se, propriedade privada dos arrendatários, a partir da celebração do contrato de 5 páginas), com olfacto canino, para tentar perceber se houve alguma actividade subversiva durante a noite. Tudo feito ao melhor estilo de espionagem John le Carré, autor da única obra que deve ter começado a ler na versão original, quando veio para Londres , mas que ainda não terminou por dificuldades linguísticas.
terça-feira, outubro 24, 2006
sentir
Tudo o que eu queria era caminhar, lentamente, sobre o chão molhado. E nesse andar escorado e lento, de quem caminha pensando, sentir a liberdade que o anonimato permite. E agora sinto que entre mim e o outro que passa, indiferente e esquivo (porque caminha a pensar), não há diferença no sentir. Há um canal postiço e ruço que nos guia (e aos rebocadores no seu caminhar maquinal), em sentidos contrários. Mas só no sentido da geografia, não no sentido do sentir e do pensar.
quinta-feira, outubro 19, 2006
late evening quiz
Em Londres, cidade multicultural sem paralelo, quando se pergunta a um interlocutor de onde ele vem, obtém-se, em geral, uma resposta referente ao país de origem. Por exemplo, um australiano dir-nos-á que vem da Austrália, um canadiano que vem do Canadá, um indiano da Índia, e por aí em diante. De um americano, no entanto, espera-se uma resposta tipo "venho do Ohio" ou "venho do Dakota do Sul".
A que factores se deve atribuir esta hiper-especificação geográfica dos yankees expatriados na velha Albion?
a) nos states, o sentimento de pertença regional é mais forte do que de pertença nacional.
b) estão estigmatizados pelo facto de terem o george w. como "dear-leader".
c) é uma estratégia de autoprotecção.
d) desconhecem onde ficam os EUA. *
* obrigado ao/à II pela correcção
terça-feira, outubro 10, 2006
segunda-feira, setembro 25, 2006
segunda-feira, agosto 28, 2006
sexta-feira, agosto 25, 2006
Bonnie & Clyde
«They knew they were going to die, maybe next week, maybe next month. Maybe in the morning. They never pretended they might be the only exception to the standard, "Crime doesn’t pay". But, because they knew their time was limited -- their crime spree lasted less than two years -- they decided to let all hell break loose in the meantime to whoop and holler it up till death do them part».